Em 2015 estive na Coreia do Sul realizando atividades de um projeto de parceria que ao tempo eu coordenava. Visitei diversas estufas de produção de hortaliças e lembro-me que pedi ao pesquisador que me acompanhava para visitar uma estufa de produção orgânica. Fomos a uma enorme estufa de produção de pimentões nos arredores de Busan. Minha primeira surpresa foi que a produção era hidropônica. No Brasil não há como certificar uma produção hidropônica como orgânica, a legislação não permite. A surpresa maior veio quando verifiquei que toda a nutrição das plantas era feita com adubos químicos.
A resposta do colega coreano quando lhe perguntei como classificavam aquela produção como orgânica se usavam adubos químicos foi, para mim, uma aula de pragmatismo: “a forma com que a planta absorve o nutriente é a mesma, independente se o adubo é orgânico ou químico, isso não é o importante. O importante é que não usamos agrotóxicos para combater pragas e doenças, só controle biológico.” Claro. Esse tipo de produção, no Brasil, seria chamada de Produção Integrada, um sistema de produção que agrupa o que se chama de Boas Práticas Agrícolas. Esse, no entanto, não é o foco dessa reflexão. O que quero sublinhar é o fato, claro para o colega pesquisador coreano, é que fertilizantes, adubos, químicos ou não, não são agrotóxicos.
Todas as espécies vegetais cultivadas precisam pelo menos de 16 nutrientes. Três destes nutrientes, hidrogênio (H), oxigênio (O) e carbono (C) são fornecidos pela água ou pelo ar e são classificados como elementos não minerais essenciais ou elementos estruturais. Os outros treze nutrientes, conhecidos como nutrientes minerais, devem ser fornecidos através de adubos ou fertilizantes e estar na forma de íons (cátions ou ânions) no meio onde crescem as raízes para que as plantas possam absorvê-los, juntamente com a água. Os nutrientes minerais são divididos em macronutrientes e micronutrientes.
Macronutrientes são elementos químicos cuja concentração na matéria seca vegetal é maior que 0,1%. São considerados macronutrientes os elementos nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). Os micronutrientes são os elementos nutrientes cuja concentração na matéria seca da planta é menor que 0,1%. Atualmente reconhecem-se 7 micronutrientes: ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), boro (B), molibdênio (Mo) e cloro (Cl). Para alguns fisiologistas o elemento níquel (Ni) é essencial e classificado como micronutriente. Os micronutrientes são elementos tão essenciais para as plantas quanto os macronutrientes, só que requeridos em quantidades muito pequenas, daí a denominação micronutriente.
Além dos elementos químicos considerados como nutrientes essenciais, há alguns elementos conhecidos como benéficos. Estes são elementos não essenciais os quais estimulam o crescimento vegetal. Também são classificados como benéficos os elementos essenciais para um número limitado de espécies. Essa classificação geralmente se refere aos elementos silício (Si), sódio (Na) e cobalto (Co).
Um adubo ou fertilizante é simplesmente o meio de transporte de um nutriente. O adubo leva para a planta o nutriente que ela precisa Os adubos geralmente são sais (compostos formados por um cátion e um ânion) de altas pureza e solubilidade. Um adubo pode conter um ou mais nutrientes e o mesmo nutriente pode estar presente em diferentes adubos.
O nitrogênio (N), por exemplo, é um nutriente essencial para as plantas. Quando um produtor precisa fornecer o nitrogênio a seu cultivo, utiliza um adubo que contenha o nitrogênio, por exemplo o MAP (monoamônio fosfato ou fosfato monoamônico), cuja fórmula química é NH4H2PO4. É possível ver na fórmula química do MAP que além do nitrogênio, ele contém fósforo (P), o qual também é um nutriente. Isso quer dizer que o adubo MAP contém, ou transporta, os nutrientes nitrogênio e fósforo.
O termo agrotóxico se refere a “produtos químicos utilizados no controle de pragas agrícolas”, segundo a definição do livro Agricultura: Fatos e Mitos. Esses produtos são conhecidos internacionalmente como pesticides, pesticidas ou praguicidas. No Brasil, tem se preferido o uso do termo “defensivo agrícola” ou, mais exato ainda, produto fitossanitário. Pragas agrícolas são organismos cuja presença no sistema de produção podem comprometer a produção ou qualidade do cultivo; geralmente são artrópodes e microrganismos causadores de doenças. Não abordarei neste texto a prática do uso de pesticidas.
Espero que fique clara a diferença entre fertilizantes, usados para fornecer nutrientes essenciais às plantas, e agrotóxicos, usados para o controle de pragas. São papeis completamente diferentes. Uma planta bem adubada, adequadamente nutrida, será mais resistente ao ataque de pragas agrícolas, demandando menor uso de agrotóxicos. O uso inadequado, seja excessivo seja insuficiente, de adubos pode levar a desequilíbrios na planta e no ambiente. Isto vale para adubos orgânicos ou inorgânicos.